Cientista, Astrofísico e Negro: Vale quanto pesa (*)
Formar um cientista astrofísico é difícil e se ele for negro é muito mais. Uma realidade dura ainda hoje no Mundo!
Pouca coisa. Nos EUA vemos a clara evidência nas estatísticas que sugerem o impacto perverso das universidades por uma preferência racial branca. Os frodescendentes são minoritários em todos os ramos da ciência, inclusive na física e astronomia. Desenvolver e apoiar esforços para aumentar as oportunidades de progressão nas bases do sistema educacional para aumentar seus números e visibilidade do seu trabalho científico é uma prioridade Humana, antes de uma prioridade de estados. Neste sentido a cada três anos nos EUA, ocorre a conferência do ”National Society of Black Physicists (NSBP)”. Um evento importante e que impressiona por apresentar os números da grande exclusão que ocorre ainda nos dias de hoje. http://scitation.aip.org/content/aip/magazine/physicstoday/news/10.1063/PT.5.9036
No recenseamento de 2002, apenas 16 dos 3.302 físicos com doutoramento em algum dos laboratórios nacionais dos EUA eram negros (afrodescendentes). Na astrofísica estelar (e exoplanetas) é ainda mais raro encontrá-los. Dentre alguns poucos que vemos, um impressionante por seu carisma e inteligência é o Astrônomo Gibor Basri que é especialista em atividade estelar e exoplanetas.
(*) "vale quanto pesa": É a versão brasileira de uma antiga expressão europeia. No Brasil na época do comércio de escravos, os homens ganhavam um valor proporcional ao peso, idade e características relacionadas à sua saúde força. Devido a isto, nos mercados de escravos havia sempre balanças disponíveis para avaliar os kilos da “mercadoria” humana.
Historicamente
a combinação de racismo e a carência de políticas públicas geram a pobreza estatística
das pessoas negras (“black people” ou negros(*) que é atualmente traduzido como afrodescendente) e impedem o acesso natural dos negros aos
cursos com maior prestígio e pressão nos
níveis de graduação e pós-graduação e consequentemente dificultam, ou impedem quase totalmente o
acesso a carreira científica. Inquietações
a respeito da desigualdade racial sempre aumenta por esta época de Janeiro,
pois Sempre na terceira segunda-feira do
mês, acontece o feria do dia de Martin
Luther King Junior aqui nos EUA. Martin
Luther King , Jr. Nasceu em Atlanta em
janeiro de 1929. Tornou-se um importante líder do movimento de defesa dos
direitos civis dos afrodescendentes nos EUA e consequentemente no mundo. Sua
campanha diária durante anos foi baseada na não violência e amor ao
próximo. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz
em 1964, sendo o mais jovem a receber tal reconhecimento. Isto aconteceu pouco
antes do seu brutal assassinato. Tal fato fez ecoar ainda mais o seu discurso e
suas deias. No discurso ele começa com “Eu Tenho Um Sonho”.
Apesar dos avanços o que mudou
após 50 anos da morte de Martin
Luther King Junior nos EUA (e no Brasil)?
Pouca coisa. Nos EUA vemos a clara evidência nas estatísticas que sugerem o impacto perverso das universidades por uma preferência racial branca. Os frodescendentes são minoritários em todos os ramos da ciência, inclusive na física e astronomia. Desenvolver e apoiar esforços para aumentar as oportunidades de progressão nas bases do sistema educacional para aumentar seus números e visibilidade do seu trabalho científico é uma prioridade Humana, antes de uma prioridade de estados. Neste sentido a cada três anos nos EUA, ocorre a conferência do ”National Society of Black Physicists (NSBP)”. Um evento importante e que impressiona por apresentar os números da grande exclusão que ocorre ainda nos dias de hoje. http://scitation.aip.org/content/aip/magazine/physicstoday/news/10.1063/PT.5.9036
No recenseamento de 2002, apenas 16 dos 3.302 físicos com doutoramento em algum dos laboratórios nacionais dos EUA eram negros (afrodescendentes). Na astrofísica estelar (e exoplanetas) é ainda mais raro encontrá-los. Dentre alguns poucos que vemos, um impressionante por seu carisma e inteligência é o Astrônomo Gibor Basri que é especialista em atividade estelar e exoplanetas.
Gibor
Basri descende diretamente de escravos da África Oriental que foram trazidos
para a Jamaica. O seu pai foi educado no MIT aqui em
Cambridge, Massachusetts e sua mãe na Columbia University em New
York. Um entrevista interessante com Gibor pode ser encontrada no link: http://www.idvl.org/sciencemakers/Bio26.html
No Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics
(CfA) entre outros, tenho trabalho em colaboração com o Astrofísico e especialista em exoplanetas John Johnson, que
é professor de Astronomia da Universidade de
Harvard e membro do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics (CfA) e
afrodescendente. John obteve seu PhD na Universidade da Califórnia, Berkeley e
é um exemplo vivo das dificuldades e da
luta diária que é se tornar um
cientista-afrodescendente em Astrofísica.
Em conversa com John, fiquei surpreso ao escutar a frase “a situação é
agora encorajadora pois a Astronomia de
Harvard aceitou finalmente um estudante afrodescendente em seu programa de
pós-graduação este ano e será o primeiro em 30 anos ". Segundo John um
dos últimos afrodescendentes aceitos na Astronomia de Harvard foi Leonard
Strachan, que é físico solar no Observatório Astronômico Smithsonian (SAO).
Um
outro bom exemplo é a cientista de física estelar, com a qual troquei mensagens ano
passado e utilizei seus resultados em dos meus artigos de 2015. A Dr
Fabienne Bastien, como ela mesmo se define uma "Black stellar
astrophysicist!". Ela publicou recentemente um artigo na Nature
com grande impacto para nossa área onde explorou dados do satélite Kepler. Ela foi financiada pelo Hubble fellow na Universdade Pennsylvania State.
Foi convidada para pesquisar em Berkeley, porém achou melhor seguir para outra instituição.
Foi convidada para pesquisar em Berkeley, porém achou melhor seguir para outra instituição.
Mulheres
negras e cientistas são ainda mais raras e acredite, isso não é por causa da
genética, como sublinha o também o astrofísico americano e afrodescendente Neil
deGrasse Tyson, autor de diversos livros e que apresenta a série “Cosmos:Odisséia
no Espaço“, do NatGeo. Neil deGrasse
Tyson é
divulgador de ciência mais conhecido em todo mundo. Em um dos vídeos da
internet ele dá uma resposta dura e certeira
quando lhe perguntaram por que não vemos
mulheres na ciência. Vale a pena assistir. Alguns dos argumentos servem perfeitamente
para os afrodescendentes.
Para saber sobre Cientistas Negros
A lista de
grandes invenções provenientes de mãos e cérebros negros é extensa. Na próxima
vez que você utilizar um telefone
celular, ar-condicionado, elevador, geladeira lembre-se disto. Algumas da
invenções já foram utilizadas em uma
mostra promovida pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, ligada à Presidência da República. Cientistas como o filho de
escravos George Washington Carver que nasceu numa fazenda no Missouri ao
fim da Guerra Civil Americana ajudou a cunhar a história de afrodescendentes na
ciência nos EUA. Quando criança foi sequestrado ao mesmo tempo que ficou órfão.
Estudou por conta própria e ainda criança conduzia experimentos biológicos. Foi
diplomado mestre na Iowa State Agricultural College, e obteve uma
reputação de brilhante professor e cientista, com resultados importantes
na botânica, agricultura. (TBC)
E no Brasil?
Segundo
estatísticas oficiais e acessíveis, nos
últimos dez anos a produção científica nacional integrada em varias áreas crescem 200%, passando de 10 mil para
mais de 30 mil estudos publicados em revistas especializadas internacionais
(dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
do Ministério da Ciência e Tecnologia),
no entanto, paralelo a isto o número de afrodescendente não foi contemplado por este salto.
82% dos cientistas negros no Brasil são de formação em ciências humanas (História,
Letras, Sociologia, Geografia,
Educação). Não temos estatísticas formais sobre os Astrônomos afrodescendentes do Brasil. Quantos são e qual sua proporção. (TBC)
A combinação
perversa do racismo com a total ausência
de políticas públicas indutoras que quebrem a dificuldade de acesso à educação
pública e de qualidade é o principal ponto gerador do atual cenário. A baixa
autoestima do negro brasileiro está entre os fatores primeiros onde esbarra a
carreira e um afrodescendente em cursos
que poderiam de entrad para uma carreira científica. E em uma sociedade ainda dominada por homens brancos, a situaçnao das mulheres e mulheres-negras é ainda pior.
A
propósito, este artigo surgiu de uma conversa com meu filho e em resposta a
pergunta “papai por que não existem muitos astrofísicos negros no mundo? O fosso é grande, tanto na UFRN, como
em Harvard ou em qualquer Universidade do Mundo. A ciência ainda tem cor
de pele e ela é branca majoritariamente.
E lembre-se, "Astronomia é a porta de entrada para o estudo da ciência" e um grande indicador do desenvolvimento social e humano em uma sociedade.
E lembre-se, "Astronomia é a porta de entrada para o estudo da ciência" e um grande indicador do desenvolvimento social e humano em uma sociedade.
(*) "vale quanto pesa": É a versão brasileira de uma antiga expressão europeia. No Brasil na época do comércio de escravos, os homens ganhavam um valor proporcional ao peso, idade e características relacionadas à sua saúde força. Devido a isto, nos mercados de escravos havia sempre balanças disponíveis para avaliar os kilos da “mercadoria” humana.
Prof. José-Dias do Nascimento Jr. é PhD em Astrofísica pela Universidade de Toulouse na Françe (1999) , pesquisador visitante do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics (CfA) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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